Um novo estudo científico americano publicado recentemente no Journal of Experimental Psychology revelou duas descobertas surpreendentes sobre a relação que o sistema endócrino desempenha no comportamento ético das pessoas.
A primeira descoberta indica que é possível prever quando uma pessoa agirá de má fé. Já a segunda mostra que as pessoas trapaceiam para aliviar o estresse. Mas, como isso é possível?
Os cientistas responsáveis pelo estudo fizeram uma série de análises envolvendo dois hormônios importantes: a testosterona (associada à diminuição do medo e ao aumento da sensibilidade ao status e posição de dominação) e o cortisol (hormônio relacionado ao estresse).
Na avaliação principal, 120 voluntários, entre homens e mulheres, foram convidados a responder 20 problemas de matemática por $10 dólares. Antes e depois do teste, os hormônios dos participantes foram medidos por meio da saliva.
A cada resposta correta eles ganhariam $ 1 dólar adicional. Para isso, era necessário que antes de entregar os testes, eles dessem uma nota para si mesmos. Como resultado, cerca de 40% dos participantes mentiram sobre os seus próprios desempenhos no teste.
As pessoas que mentiram apresentaram um nível maior de testosterona no organismo quando chegaram ao local do teste em comparação com quem não mentiu. Já as análises dos níveis de cortisol no organismo dos participantes antes e depois do teste apontaram para uma revelação interessante: na medida em que o participante mentia, os níveis de cortisol no organismo diminuíam, e como consequência, a sensação de estresse também.
“Os resultados do teste e de pesquisas anteriores que realizamos indicam que trapacear pode ser usado como um mecanismo de redução do estresse”, afirma Jooa Julia Lee, integrante de pós-doutorado da Universidade de Harvard e uma das coautoras do estudo.
Como isso pode interferir no ambiente de trabalho?
Ainda faltam testes complementares para comprovar a causa e o efeito dos hormônios em um comportamento antiético. Porém, o estudo levanta um alerta para as empresas sobre a forma como os seus próprios modelos de negócios podem afetar o comportamento das pessoas.
Com base nas descobertas, a maioria dos indivíduos que costumam enganar os outros são agressivos (apresentam alto níveis de testosterona) e estressados (apresentam alto nível de cortisol). Em contrapartida, boa parte dos ambientes empresariais é propícia a esse tipo de comportamento, uma vez que incentiva a alta competitividade entre os funcionários oferecendo altos bônus financeiros.
O que fazer?
Se a sua empresa se encaixa nesse modelo organizacional, os pesquisadores sugerem um sistema de compensação diferente. A avaliação completa realizada sobre a testosterona indica que é possível diminuir a influência desse hormônio recompensando o desempenho do grupo, em vez de alimentar um sistema de compensação sobre o desempenho individual.
“Sabemos há muito tempo que altos níveis de estresse e sofrimento psíquico podem levar ao desenvolvimento de doenças fatais,” afirma Robert A. Josephs, professor e líder do laboratório de neuroendocrinologia da Universidade de Austin e coautor do estudo. “O que não sabíamos e foi revelado por essa pesquisa é que o estresse também pode levar ao surgimento de um comportamento antiético”, complementa.
Como alternativa a esse comportamento, os pesquisadores sugerem que as empresas adotem programas relacionados à saúde mental e a mudanças do estilo de vida como uma das medidas para reduzir o estresse de forma saudável.