Saúde dos colaboradores: por que cultivar felicidade e bem-estar nas empresas

Saúde dos colaboradores: por que cultivar felicidade e bem-estar nas empresas
19 de julho de 2016 Latinmed
Grupo de três funcionários conversando enquanto outra funcionária está distante

Perita em Psicologia Positiva do Departamento de Educação Executiva da Universidade de Monterrey, a consultora Nicole Fuentes persegue bons indicadores de gestão corporativa investindo no bem-estar emocional dos trabalhadores. Professora de Ciência da Felicidade, sustenta que o sucesso material não leva à felicidade, mas vice-versa. No dia 16 de agosto, ela apresentará a palestra “Colaboradores mais felizes, empresas mais produtivas” no 42º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas – Conarh 2016.

De que maneira o estudo da Harvard sobre vida saudável e feliz pode ser aplicado no mundo corporativo?

A Faculdade de Medicina da Universidade Harvard está conduzindo o maior estudo feito até hoje para entender quais são os ingredientes de uma vida saudável e feliz. Os resultados mostram que dinheiro, fama e poder não são importantes. O que importa são as nossas conexões sociais. A maioria das pessoas opera sob a lógica de que o sucesso leva à felicidade. Esse padrão de pensamento nos impulsiona a trabalhar mais, na esperança de ter sucesso e ser feliz, mesmo sacrificando o convívio com a família ou os amigos.

E as empresas?

As empresas também operam sob esta lógica. Os sistemas de recompensas valorizam o desempenho das pessoas, com base na realização de objetivos, apesar do desgaste que possam causar. Estudos da ciência da felicidade sugerem, todavia, que essa fórmula está invertida: a felicidade deve vir em primeiro lugar. Pessoas que têm estado mental e emocional positivo, geram endorfinas e dopaminas que lhes permitem usar melhor suas capacidades, aumentar o nível de concentração, melhorar a assertividade, a criatividade e a empatia. A partir daí, o sucesso é consequência.

Como restabelecer a importância das conexões sociais?

Conexões sociais compreendem um ingrediente-chave para uma vida saudável e feliz. Pessoas que têm laços estreitos com familiares, amigos e colegas de trabalho são mais felizes, têm saúde melhor e vivem mais. Por outro lado, quem passa muito tempo sozinho, tende a ter problemas como depressão, ansiedade e um sistema imunológico menos robusto. Para fortalecer laços sociais, a ciência da felicidade propõe ações simples, como expressar gratidão, admiração e carinho; passar tempo com pessoas queridas, cultivar o otimismo e mostrar interesse pelos outros.

O fato de a felicidade dos trabalhadores de uma empresa gerar lucro pode ser um incentivo para instituir a cultura do pensamento positivo?

Estudos do Instituto Gallup indicam que o bem-estar no trabalho é um dos cinco elementos universais de bem-estar. Mas há a crença generalizada de que o trabalho deve simplesmente ser tolerado. No entanto, estar satisfeito no trabalho é essencial por dois motivos: identidade e tempo. O trabalho nos define e determina o tipo de pessoas com quem vivemos e as oportunidades de vida que temos. Quando ele não está alinhado com o que acreditamos e gostamos de fazer, surgem problemas em outras áreas. O custo físico e mental da frustração e do estresse pode ser muito alto. O fato de a felicidade ter benefícios tangíveis para as empresas certamente acelera o processo para estabelecer a cultura do pensamento positivo. Investir em felicidade dentro da empresa, além de ter impacto positivo na produtividade e rentabilidade da organização, é uma oportunidade de elevar o grau de bem-estar no trabalho.

Uma das premissas da psicologia positiva é que o indivíduo deve se esforçar para alimentar pensamentos positivos. Isso é viável em países pobres?

A felicidade não é exclusiva dos países ricos, nem é baseada unicamente na renda nacional. Os indicadores de bem-estar e felicidade começaram a ganhar enorme importância diante do resultado paradoxal de alguns países com grande riqueza material, crescimento econômico e significativos avanços tecnológicos, de um lado, e níveis elevados de depressão e ansiedade na sociedade, de outro. Hoje, se reconhece a necessidade de considerar a felicidade dos cidadãos de um país como medida adicional de progresso e definir o desenvolvimento de um país para além da sua renda nacional e capacidade de atender às necessidades materiais do povo. No Relatório sobre a Felicidade Mundial de 2013 a 2015, por exemplo, o Brasil aparece na 17ª posição em uma lista de 157 países. / Marleine Cohen / Especial para o Estado

Fonte: Estadão